quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu"

"Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu"

Orgulho-me de, pelo menos uma vez na vida, conseguir (ou pensar conseguir) compreender Fernando Pessoa. E eu que tenho tanta dificuldade em interpretar poesia! Mas este verso agrada-me especialmente. Identifiquei-me com ele assim que o li. Mesmo antes de o entender verdadeiramente. Será que alguma vez o vou entender?! Atribuí-lhe um significado, desvendei-o (do meu ponto de vista, claro). A poesia é desvendável por todos os que a tentam desvendar. A verdade é que é difícil encontrar uma solução que se adeque.
E eu consegui adequá-lo a mim mesma. Tem que ver comigo. Pois, apesar de eu me ver e de me conhecer, ou seja, de saber quem sou e de reconhecer as minhas qualidades e os meus defeitos, estou várias vezes "sem mim". E quantas vezes "não sou eu"? Todos temos situações em que reagimos sem saber porquê, parece que estamos sem nós, que não somos nós, sequer.
E eu sou assim tantas vezes que até fico baralhada com o meu ser. Apesar de me conhecer às mil maravilhas. Confuso ou impossível? Eu sou confusa, todos nós somos confusos, o mundo é confuso. No entanto, eu sei quem sou e em que mundo vivo.
É bom encontrar uma frase confusa, atribuir-lhe um significado confuso e, no fim, olhar para ela como se tivesse sido eu a escrevê-la.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Morangada: uma influência negativa

Sempre que vejo os Morangos com Açúcar (uma vez ou duas por série, só para saber se está muito pior que a anterior), dou por mim a exclamar "Que podridão! Isto mina a cabeça das pessoas!". E é verdade. Toda a gente sabe que os jovens são tão influenciáveis pela série, ao ponto de se associarem em grupos que vestem de maneira diferente (igual à dos "moranguitos"), que sabem andar de skate e de patins em linha, que utilizam um vocabulário o mais diminuto possível (com uso de estrangeirismos, calão e gíria estudantil), que têm problemas com a família, com os amigos, professores e confrontações pessoais; que não conseguem matar o vício do tabaco, álcool e drogas; que raramente estudam e nunca leram um livro na vida. Isto é obviamente, o exemplo dado pela série.

No entanto, não são apenas estas gerações que se deixam infectar por este vírus. Hoje em dia, os pais preenchem os requisitos para educar os filhos seguindo o modelo dos Morangos, e pensam tornar-se assim « os pais mais fixes do planeta!». Agora, sempre que discutem, ralham ou têm conversinhas da treta com os seus jovens emancipados (fazem um esforço por não bater!), é com aquela nota na voz: "Não reconheces a cena? Vi nos Morangos!". Esta série tem o dom de ter péssimos actores e criar ainda piores.

Mas será que as pessoas acreditam mesmo que tudo aquilo corresponde à realidade? Eu ainda tenho dúvidas. Porque, se assim for, não vejo razão para adoptarem um estilo de vida idêntico e ou aperfeiçoarem o que já têm em comum. As pessoas gostam do que vêm e querem esse mundo para si. Tentam viver essa realidade (que julgam ser verídica) mas, como está maioritariamente relacionada com traumas de infância e outras histórias de vida complicadas, têm que por florzinhas à volta para alegrar o quadro, criando um cenário patético.

Ainda bem que há pessoas que quando assistem aos Morangos é para tecer críticas e para dizer "Que podridão! Isto mina a cabeça das pessoas!"

Substituição: Sim ou Não?



Sempre que vejo um professor que não é o meu abrir a porta da sala, sinto-me a enfurecer dos pés à cabeça. Entro e sento-me, quase automaticamente. Irrito-me só de olhar para aquele ar arrogante ("também está aqui contra vontade"- penso eu). A primeira coisa que diz é que escusamos de fazer perguntas porque não sabe nada daquela disciplina mas manda-nos fazer o que está destinado. "Se não sabe nada o que está aqui a fazer? Que raio de substituição! Substituir quem sabe por quem não sabe nada?! Ainda por cima é antipático!" Contudo, retiro o material e começo a trabalhar. Quem olhar para mim, não imagina os meus pensamentos... Resolvo a fichita energicamente, parece-me até que já a fiz no ano anterior. É provável. Olho para os meus colegas: uns escrevem como quem quer despachar aquilo depressa, outros brincam com o lápis, ou observam a contínua que varre as folhas lá fora. "Quem me dera ajudá-la..." Lanço um olhar rápido ao professor, está a contemplar o relógio. Deve estar a apanhar uma seca! Também não lhe pagam para isto, coitado." Acabo por sentir pena, porque já só faltam cinco minutos, a fúria já se desvaneceu. O professor ainda não abriu a boca desde o início da aula, a não ser para mandar calar um ou dois tagarelas e ameaçar confiscar um telemóvel. "Era só para ver as horas, stor. Desculpe." "Que necessidade tens tu de ver as horas?" pergunta, altivo. "A mesma que o stor." pensei eu. "Já não aturo isto. Tirem-me daqui!" Toca finalmente a campainha. Levantam-se todos numa algazarra, incluindo o professor que finalmente acabara a minuciosa tarefa de rasgar talões dos bolsos e da mala. "Uf", ouvi-o suspirar. "Adeus, stor!" despedimo-nos. "Até à próxima." acaba por pronunciar, mas os seus olhos pedem para não haver mais nenhuma vez como aquela. Acabei por me rir. Afinal os trabalhos já estavam todos feitos e ainda tive tempo de pensar nisto tudo!