sexta-feira, 19 de junho de 2009

Aparelho nos dentes: um perigo para a segurança pública


Há uma questão que muito me tem intrigado. É que, de um modo geral, todos os pais evitam que os seus filhos levem muito dinheiro ou objectos de elevado valor económico para a escola, sob pena de serem furtados. É o típico caso da playstation de 300€ que fica em cima da secretária; do telemóvel de última geração de 600€ que fica todo o dia de pé no “poiso” da escrivaninha; da máquina fotográfica digital de 12 megapixel que regista tudo o quanto se passa na gaveta; ou até da pulseirinha de prata com o pêndulo do anjinho oferecida como prenda de baptizado (e que para além do seu inestimável valor económico, tem grande valor sentimental).
Só que estes pais tão extremosos, que parecem zelar pela segurança dos seus filhos, desprovendo-os de bens valiosos, falham num ponto. É que depois metem-lhes umas latas de 2000 e tal euros nos dentes e deixam-nos ir para a escola com aquilo. É uma tamanha contradição! Ainda por cima os pequenotes não fazem nada para ocultar o verdadeiro tesouro que transportam na boca. Pelo contrário! Riem-se a torto e a direito e ainda colocam borrachinhas fosforescentes para chamar a atenção.
Não sei se já alguém pensou nisto, mas ter aparelho nos dentes é equivalente a ter dois ou três dentes de ouro de 24 quilates, dois cristais swarovski nos dentes caninos e um pequeno diamante num incisivo.
Claro que isto acarreta sérios problemas. Com este mundo tão virado para o crime violento, não tarda que se vulgarize o sequestro de miúdos com “dentes de lata”, para extracção e posterior venda de aparelhos no mercado negro. Não me digam que não faz sentido! Se os larápios conseguem desincrustar as caixas de Multibanco e os cofres-fortes das paredes, também são bem capazes de arrancar um aparelho à martelada.
Espero, com franqueza, estar enganada nestas previsões porque eu sou uma dos muitos que vale pelo menos 2000€!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Perdi a Liberdade! (sou um ponto da circunferência que luta por se afastar do centro)


A cada passo que dou sinto a minha vida mais previsível e monótona (monotorizada é a palavra). Calculada ao segundo, traçada a compasso, rigorosamente planeada. E tudo porquê? Saio da escola -sempre tão tarde e tão cansada- e ainda tenho obrigação (sim, é obrigação, deixou de ser só dever) de pensar nela. Tornou-se uma espécie de Grande Irmão, uma entidade que tudo vigia, tudo controla, que tem o dom de nos ocupar todo o dia e ainda a pretensão de definir todos os nossos actos quando (finalmente!) nos livrámos dela.
Se pego num livro, ("será só por 30 minutos, nem mais um segundo" ou "só este capítulo", "desta página àquela", juro a mim mesma) estou a perder tempo. Na verdade, sinto que não estou a perdê-lo - estou a gastá-lo como quero - mas, agora, a sociedade diz que sim.

Perdi a Liberdade! Porque liberdade é poder planear o que vou fazer e poder não fazer o que planeei.

Quando é que vou poder olhar para o Mundo, observá-lo, analisá-lo, desmontá-lo, dissecá-lo se, afinal, tenho constantemente o pensar, o olhar, o falar e o agir ocupados, comprometidos, imortalmente direccionados?
Como posso levantar questões filosóficas se o meu maior problema é de natureza matemática: falta de tempo!


P.S.: Quem me dera ser como tu, Sofia Amundsen que, escondida atrás dos arbustos, arranjas sempre tempo para ler as cartas do filósofo!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Os olhares

Os olhares cruzam-me
Trespassam-me
Facas afiadas, inexoráveis
Que ferem os olhos
Rasgos visionários
Num rosto sem cor

Ambição

Sempre pensei que a ambição
Fosse um sentimento, um desejo
Que nos elevasse
Que nos tornasse superiores...

Mas eU sou pequena
E a minha ambição é grande,
Tornando-me ridiculamente
Minúscula, microscópica

Diante dos outros
Que, podem até não ter ambições
Mas são maiores do que eU

terça-feira, 1 de abril de 2008

"Deus"

Às vezes não sou mais do que um ateu
Desse deus meu que eu sou quando me exalto.
Olho em mim todo um céu
E é um mero oco céu alto.

Fernando Pessoa

quarta-feira, 12 de março de 2008

A televisão




A televisão é, na minha perspectiva, um instrumento pouco democrático e é actualmente um dos piores meios para obter informação sobre qualquer área.
Os programas televisivos que abundam e que, de facto, fazem sucesso são completamente ocos de conteúdo interessante – onde estão a Ciência, a cidadania, a arte ou a educação nos cada vez mais frequentes “reality-shows” ou nas novelas?

Se é verdade que a televisão é de fácil acesso e baixo custo, podendo aí residir alguma democracia, também é verdade que o público é cada vez mais aliciado para a programação “vazia” e que os programas interessantes ou passam a horas tardias, ou não são devidamente publicitados, ou então estão confinados a canais a que nem todos podem aceder, pois implicam uma mensalidade extra.

Se a televisão fosse de facto mais democrática que o livro, então os jovens e as crianças deveriam ter um elevado nível de cultura e cidadania, dado que passam muito mais tempo em frente ao ecrã do que a ler. Mas o que se verifica é o acréscimo da violência e da futilidade, induzidos pela admiração e/ou tentativa de imitação das personagens das novelas, dos seus modelos estéticos e dos seus gostos (geralmente “maus gostos”).

A par de muitos outros objectos de interesse discutível e utilidade nem sempre aproveitada da melhor forma, a televisão surge mais como promotora de vícios do que de hábitos saudáveis ou aproximação à ciência. Cria fenómenos de alienação e dependência que não deixam o indivíduo gozar o prazer de um livro ou simplesmente contemplar a Natureza.


Escrito pela minha irmã Ana

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

"Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu"

"Eu vejo-me e estou sem mim, Conheço-me e não sou eu"

Orgulho-me de, pelo menos uma vez na vida, conseguir (ou pensar conseguir) compreender Fernando Pessoa. E eu que tenho tanta dificuldade em interpretar poesia! Mas este verso agrada-me especialmente. Identifiquei-me com ele assim que o li. Mesmo antes de o entender verdadeiramente. Será que alguma vez o vou entender?! Atribuí-lhe um significado, desvendei-o (do meu ponto de vista, claro). A poesia é desvendável por todos os que a tentam desvendar. A verdade é que é difícil encontrar uma solução que se adeque.
E eu consegui adequá-lo a mim mesma. Tem que ver comigo. Pois, apesar de eu me ver e de me conhecer, ou seja, de saber quem sou e de reconhecer as minhas qualidades e os meus defeitos, estou várias vezes "sem mim". E quantas vezes "não sou eu"? Todos temos situações em que reagimos sem saber porquê, parece que estamos sem nós, que não somos nós, sequer.
E eu sou assim tantas vezes que até fico baralhada com o meu ser. Apesar de me conhecer às mil maravilhas. Confuso ou impossível? Eu sou confusa, todos nós somos confusos, o mundo é confuso. No entanto, eu sei quem sou e em que mundo vivo.
É bom encontrar uma frase confusa, atribuir-lhe um significado confuso e, no fim, olhar para ela como se tivesse sido eu a escrevê-la.